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quinta-feira, julho 01, 2004


Fahrenheit 9/11


Na porta do cinema da 42nd Street em Nova York, havia uma pessoa vestida de bata preta longa, capuz preto cobrindo a cabeça, de pé em cima de uma caixa de madeira, com os braços abertos e com fios ligados às duas mãos, representando os prisioneiros de guerra torturados no Iraque. Ao seu lado, uma garota carregava uma grande placa dizendo: “Este é o trabalho do nosso governo: matar centenas de milhares de pessoas em um país estrangeiro.”

Na data de estréia de Spiderman II nos EUA, o filme que tinha os ingressos esgotados era Fahrenheit 9/11, o último documentário de Michael Moore – vencedor do Oscar de Melhor Documentário por “Bowlling for Columbine”.

A fila realmente era o que se mostra no site do diretor, o que, para um cinema com 25 salas, o fato é notável. O filme que bateu o recorde de bilheterias americanas na categoria documentário, U$21,8 milhões no final de semana de estréia.

O filme que teve publicidade mais do que suficiente por causa do episódio Disney/Miramax vetando a distribuição do mesmo na última hora, somado ao sucesso de Cannes - Vencedor da Palma de Ouro por melhor Documentário e a iniciativa da Lions Gate Films e IFC Films de distribuir o filme no maior número de salas possível na américa do norte, quebrando assim, outro recorde.

A sequência de imagens que se dá por mais de duas horas é fascinante, ensina, esclarece e choca ao mesmo tempo. As primeiras cenas seriam umas das mais importantes fora dos EUA, pois desmitificam o fato de Bush ter ganho a eleição. Michael Moore chama as horas durante as quais Al Gore foi declarado presidente dos EUA de “um sonho”, mas não é preciso se esforçar demais para ridicularizar George W. Bush, o próprio já o faz em diversas situações.

O título do filme remete à obra de François Truffaut, “Farenheit 451”, onde em um futuro próximo a ditadura que governa o país manda queimar livros que vão contra os interesses do ditador. Na atualidade, Bush aparece dizendo que “se isso fosse uma ditadura, tudo seria mais fácil”.

Michael Moore prova a relação de Bush com sauditas e membros da família Bin Laden, a grande quantidade de dinheiro investida nas empresas do presidente e a ligação com o colega do exército James R. Bath, que administra parte da fortuna dos Bin Laden na América, investindo em ações das companhias de Bush, estão em um documento que aparece no filme que comprova uma relação de longa data e se intensifica com a proteção que Bush teria dado a cerca de 24 membros da família Bin Laden e seus parentes, quando, após 11 de setembro, com todos os voos internacionais e grande parte dos voos nacionais cancelados, uma autorização para fretamento de dezenas de aviões é assinada pelo presidente, afim de tirar os Bin Laden dos EUA, por risco de atentado contra os mesmos.

Com narração bem humorada, uso de gráficos, desenhos animados, legendas e músicas, além de imagens de telejornais americanos e de cinegrafistas independentes que estiveram presentes no Iraque, o filme conta a história da farsa na qual a américa vive. Pobreza e riqueza, mentiras e omissão de informação, falta de educação.

O documentário de Moore traz, pela primeira vez aos olhos de muitos americanos, imagens de civis atingidos durante a guerra, soldados desiludidos e outros debochando dos árabes e dizendo: “Eu odeio este país”, todos jovens. Também a explicação do porquê os jovens procuram o exército, em um país onde a taxa de desemprego chegou a 17% no interior. O exército é uma das únicas saídas. Como famílias pobres não podem pagar as caríssimas faculdades americanas, seus filhos alistam-se no exército e o curso é pago pelo governo.

Michael Moore acertou a mão em não bater na tecla das torturas, já que este tema foi muito explorado nos noticiários locais. Apenas uma imagem remete a este fato, quando soldados colocam capuzes nas cabeças de prisioneiros e posam para fotos como se tivessem mostrando uma conquista. O comportamento desses soldados é “justificado” com a idéia de que atos imorais, geram atos imorais. Moore agumenta com os dados sobre corte nas verbas destinadas à assitência de soldados e aposentadoria de veteranos de guerra, assim como nos seguros de saúde e tratamentos médicos dos mesmos.

Neste filme, diferente do que ocorre em “Bowling for Colimbine”, o diretor está menos à frente das câmeras e interagindo com as pessoas. Entretanto faz duas aparições marcantes, quando conversa com a Assistente Social, que nasceu na mesma cidade que Moore, Flint, Michigan, e que matém uma postura patrióca e de apoio a guerra. Mais tarde, esta mesma mulher lê, sob lágrimas, a última carta do seu filho morto durante a guerra. Michael Moore aparece também quando pára na Pennsylvania Avenue, Washington-D.C., de frente para a Casa Branca, tentando, em vão, recrutar filhos de congressitas americanos para a guerra. Apenas um deputado teve seu filho enviado ao Iraque.

O filme não traz muitas novidades aos mais bem informados e principalmente àqueles que tem acesso à mídia estrangeira. Mas, o cidadão médio americano, NUNCA viu imagens de guerra, nunca viu corpos, quanto mais de crianças atingidas durante conflitos, ou o desespero de pais que perderam filhos e/ou parentes na guerra.

O opinião pública foi manipulada pela mídia, que esconde as imagens da guerra e mostra gráficos de alerta laranja/vermelho mesmo após quase três anos depois das Torres Gêmeas terem sido atacadas, contruindo assim, apoio ao governo de Bush, o governo do medo.

Apesar do documentário ser longo, é fácil de ser assistido. Bem humorado, intercala momentos com imagens de peso e charges, músicas e piadas. O filme será uma poderosa arma de propaganda nas eleições que ocorrerão em Novembro.

por: Mary Jane 7:57 PM